LAGRIMAS DE UM VELHO

09/03/2010 19:03

 

    Jeremias e Nilza, um casal de comerciantes de uma cidade simples, mas movimentada, pais de dez filhos, era dono de um comércio varejista, de secos e molhados, na cidade. Pais e filhos, os filhos já criados, trabalham juntos naquele comércio. Jeremias, o chefe da casa e administrador dos negócios, lu­tava para o crescimento dos negócios, trabalhando mais de 14 horas por dia. Os filhos, já mais adultos e experientes, começaram a falar com o pai: Olha, velho, o senhor tem trabalhado muito e achamos que está na hora do senhor e a mamãe descansarem. Nós somos bastante na casa e aprendemos muito com o senhor e a mamãe. Que tal passar o controle do comércio para nós? Jeremias, que confiava muito nos fi­lhos respondeu sorrindo: É uma boa ideia. Vou conversar com a mãe de vocês, depois responderei. Pas­saram-se alguns dias. Jeremias e sua mulher, dona Nilza, reuniram os filhos e resolvem aceitar a propos­ta dos filhos. Então meus filhos disse ele: vamos fazer o seguinte: eu e sua mãe vamos passar tudo para vocês e nós vamos descansar, mas sempre por perto. Disse, ainda: vamos passear um pouco, mas logo estaremos todos juntos e eu quero ver tudo em ordem. Assim fez o casal. Começaram a visitar os paren­tes e irem à praia. Viajaram para vários lugares. Ao voltarem, Jeremias fez uma visita aos negócios dos filhos. Notou algo estranho, mas nada disse, pois, para ele os filhos era tudo. Chegou em casa e conver­sou com dona Nilza, sua esposa,, mas guardaram silêncio, nada disseram. Chegou a noite os dois foram dormir. Jeremias, ao deitar, disse a mulher: pressinto algo no ar, mas não sei o que é. Deitaram. Mal sa­bia ele que algo de ruim iria acontecer naquela noite. Sua companheira, já de madrugada, vem a falecer, vitima de um enfarto fulminante. Jeremias, ao ver dona Nilza ali morta, sai depressa e começa a chamar os filhos. O alvoroço dos filhos, inconformados com a morte perguntam: o que aconteceu papai? Com lagrimas no rosto Jeremias diz: meus filhos, uma desgraça paira sobre nós. Sejamos fortes. E seja feita a vontade de Deus. E com ela não se discute. Após o sepultamento de dona Nilza, as coisas começaram a mudar. Os filhos, que eram muito unidos, começaram a se desentender uns com os outros. Começou a desavença até algumas separações, deixando o pai aborrecido. O tempo passou e Jeremias envelheceu rapidamente Já havia perdido o controle sobre os filhos, que foram se desfazendo do comércio e come­çaram a vender tudo o que tinham, para repartirem. Jeremias, ao ver tudo aquilo e desmoronar a família, tentou, desesperadamente, recuperar o seu antigo comércio, mas já velho, de idade avançada e falta da companheira, seu braço direito, dona Nilza, fez com que ele, também, caísse por terra. Seus filhos, que haviam tomado outro rumo na vida, fizeram com que Jeremias, já sem nada, se acomodasse numa pe­quenina casa, sem conforto, sem o carinho dos filhos que o abandonaram, passando até falta. Jeremias, sentado em uma cadeira velha, ficava a espera de algum dos filhos que nunca apareciam. Os amigos, do tempo de suas riquezas, às vezes por compaixão, faziam alguns minutos de visita e lhes perguntava: hei Jeremias, tá tudo bem? Respondia ele, tudo bem, meus amigos, e dizia: de tudo que podia oferecer aos amigos na minha época de ouro, hoje só tenho lagrimas para derramar e lhes oferecer. Lagrimas de um velho que um dia foi alguém e que hoje espera pela visita dos filhos que nunca chegam. Não souberam conservar o que, com suor, eu e Nilza conseguimos. Hoje eles tem vergonha de olhar em meu rosto e ver as lagrimas que derramo por eles.

Pratápolis-MG., 05 de julho de 2009.

Histórias Fictícias de RENE BELLUOMINI.

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